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Produtora cultural, aprendiz de escritora e fotógrafa, devoradora de livros e chocolates, "fazedora" e mantenedora de amigos.

terça-feira, 7 de março de 2017

A voz do "polvo'

Eu quando criança era daquelas sonhadoras, que transformava pensamentos abstratos em mundos reais, fantásticos e os vivia intensamente, e os materializava em meu pequeno universo pessoal que era o meu quintal. Ao mesmo tempo era dona de um pensamento literal, quase científico, sobre as coisas que ouvia as pessoas dizerem. Talvez porque a palavra, pra mim, sempre tenha sido meio sagrada e a verdade inevitável. Ainda é. 
È muito difícil pra mim até hoje, dizer mentiras sem que meu rosto me denuncie imediatamente, nem apenas meio verdades, mesmo que sejam essas necessárias como muitas vezes são. Uma pessoa meio poliana que é capaz de dizer a verdade completa até mesmo para o seguro do carro, sem nem imaginar que falar esse tipo de verdade quase sempre te deixa na mão, sem carro, sem seguro, sem possibilidades. "Mas, caramba, eu disse só a verdade pra eles."
Enfim, como dizia acima, quando criança eu tinha o pensamento muito literal sobre o que eu ouvia, quando minha mãe mostrava para uma amiga, por exemplo, uma foto do meu pai e dizia que era uma imagem dele "sem barriga", minha mente literal se punha a imaginar meu pai pela metade, com o peito ligado diretamente á pelvis, sem a barriga no meio, era uma imagem bem estranha, confesso, e como minha mãe me conhecia bem, ainda conhece, rapidamente notava pela minha expressão o tipo de pensamente que se passava naquele momento e rindo me explicava do que estava realmente falando.
Ditados populares pra mim eram grandes enigmas, "a voz do povo é a voz de Deus", por exemplo, na minha cabeça virou "a voz do polvo é a voz de Deus", o que me tomou vários dias de raciocínio, conjecturando sobre o que aquilo queria dizer. Como seria a voz do polvo? E porque deus colocou nesse ser tão "diferente" sua voz? Seria sua voz rouca, profunda como o lugar onde vive tal criatura? Será que Deus fez isso para que nos fosse bem difícil ouvir sua voz, fazendo com que para ouvi-la devêssemos de fato nos esforçar muitíssimo para alcançarmos tamanha profundidade, para encontrar o ser que nos permitiria conversar com ele.
Deus, nesse momento, se tornou um ser fascinante pra mim e seus desígnios motivo para que eu começasse a pensar muito sobre ele e o mundo fascinante onde vivíamos.
Venho pensando muito desde então, as vezes insanidades completas que descarrego em cadernos e em escritas virtuais que por vezes vocês encontram por aqui, as vezes soluções possíveis, para mim e meus pequenos/grandes problemas pessoais, para pessoas próximas (que não me pediram solução nenhuma) e até para o mundo, que continua seguindo seu curso sem que minhas grandes soluções para ele sejam de fato colocadas em prática. Fato é que continuo, aqui dentro, sendo aquela menina sonhadora, literal, olhando o mundo com olhos brilhantes, falando as verdades em que acredita, tentando sempre descobrir os seus mistérios e porquês e encontrar explicação para cada um deles.

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