Certas pessoas tem um sensibilidade tão aguçada que uma imagem ou palavra de um outro inspiram poemas. Com muita sensibilidade Eduardo escreve sobre meus olhos, sobre minhas palavras, e o faz com tamanha sensibilidade que fala de todos os olhos do mundo e de toda a beleza contida neles. Gratíssima Eduardo, pelas palavras, pelo gesto, pelos sentimentos descritos. Compartilho com todos suas belas palavras...
"Os olhos de Mariana são como poucos: eles dizem tudo, bem explicado, sem esconder nada.
Debruçada à janela, em atitude de observação atenta, a dona dos olhos se deixa ver em preto e branco, estática. Cotovelo no peitoril, a mão esquerda no queixo apóia a cabeça. Ela e seu par de olhos que dizem tudo.
À distância, não percebo detalhes dos olhos reveladores de Mariana. Mas o que sai deles é a certeza de quem espreita a vida, como se emitisse muxoxo conformado por ela não ser exatamente o que se sonhava. Daqui onde a vejo, ela me observa. "Se quiser saber quem sou / não me julgue / não me analise / não me preconceba / apenas olhe nos meus olhos".
Apesar de tudo, há confiança no olhar de Mariana. Seus olhos não calam, não negam. Não traem. Como tantos olhos fugidios, que vagueiam para não encontrar outros como os de Mariana.
Não preciso saber quem ela é. Além de conhecer-lhe a mãe, seus olhos e sua poesia me contam dessa moça que ama os amores, os amigos e a vida. Seu olhar vai pelo tempo, passa pelo satélite, percorre circuitos e chega ao meu monitor. Adverte-me sobre a possibilidade de, olhando bem lá no fundo, encontrar "...uma sombra de melancolia / uma sensação de solidão e até uma fina tristeza".
Dizem também de água, os olhos de Mariana.
Seus olhos dizem tudo."
postado por Eduardo Lara Resende às 21:13 em 16/10/2009
Se quiser saber quem sou
Não me julgue
Não me analise
Não me preconceba
Apenas olhe nos meus olhos
Quando eu estiver cantando, me observe
Perceba meu sorriso em um banho de cachoeira
meus braços abertos em um banho de chuva
Ou um simples papo com os amigos em uma mesa de bar
Olhe nos meus olhos
E veja toda a minha paixão
Pelos meus amigos
Pelos amores que passaram em minha vida
Por meus planos e sonhos
Veja meus desgostos, problemas
E relações mal resolvidas
E garanto que não encontrará, em meus olhos,
Ódio ou amargura
Olhe lá no fundo
E talvez encontre uma sombra de melancolia,
Uma sensação de solidão e até uma fina tristeza
Que me fazem, cada vez mais, mergulhar nos meus olhos
E me conhecer melhor, me encontrar lá no fundo
Se quiser me conhecer,
Olhe nos meus olhos
Eles estão cheios de água?
Pois eu sou água
Fluida, frágil e completamente transparente
E capaz de chegar onde quiser
Não me analise, apenas me olhe
Apenas olhe meus olhos
Ouça o meu canto
E se quiser, cante comigo.
Não costumo postar aqui textos escritos por outros. Mas este me falou tão alto ao coração, me soou tão intimamente conhecido, que resolvi postá-lo e torná-lo parte de minhas descrições do mundo e dos meus sentimentos, só que desta vez traduzidos por palavras de outro. E que outro!
"Tenho um livro sobre águas e meninos. Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos. Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio. Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios. Até fez uma pedra dar flor! A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos"
O projeto Rio com Gentileza foi um dos projetos em que trabalhei que mais me afetou.
Trabalhar com a história do profeta e com suas filosofias e posturas diante desse nosso mundo me vizeram enchergá-lo, o mundo, de outra forma. Pequenas atitudes podem tornar-se grandiosas se as realizarmos com verdade. E voltar a trabalhar com o profeta e com sua obra, para mim, será um retorno a meu momento mais brilhante, como pessoa e como vivência dos meus afetos. Enfim, bem vindo(a) de volta à minha vida, Gentileza.
O livro Univvverrsso Gentileza recupera a pesquisa inicial realizada pelo Professor do Departamento de Arte da Universidade Federal Fluminense (UFF) e coordenador do Movimento Rio com Gentileza Leonardo Guelman sobre o Profeta Gentileza, produzida durante o Mestrado em Filosofia na UERJ, sob orientação de Leonardo Boff. A publicação recupera ainda os conteúdos do livro Brasil Tempo de Gentileza, também de Guelman. (site http://www.gentilezageragentileza.com.br/)
Lançamento em Curitiba - dia 22 de julho de 2009 nas Livrarias Curitiba
Certa vez me disseram que não deveria mais falar POR FAVOR e MUITO OBRIGADO, palavras que havia aprendido na infância e usado por toda a minha vida como corretas e educadas, e sim em seu lugar POR GENTILEZA e AGRADECIDA. Achei meio absurdo e exagerado. Apesar de as novas palavras serem bem agradáveis e fazer sentido sua utilização, me soavam estranhas aos ouvidos e me sentia meio automatizada ao dizer aquilo que não me saia naturalmente e que me ‘obrigava’ a utilizar expressões que não faziam parte do meu vocabulário. Sempre tive dificuldades em executar algo que me disseram ser o correto sem explicações e convencimento.
Então fui ler a história do profeta, conhecer melhor sua história e vida, de como tinha abdicado de tudo para ensinar estas palavras, de como tinha deixado a convivência com sua própria família para consolar outras tantas por suas perdas, de como havia enfrentado e confrontado toda uma sociedade ao tomar as ruas e propagar sua mensagem bonita, coerente e agressiva em uma década que se dizia libertária. Passaram-se os anos e ele se manteve ali, fiel aos seus princípios e à suas verdades e novamente próximo de sua família. Tido como maluco por alguns, se dizia maluco beleza. Tido como insano por muitos, esbravejava suas palavras gentis. Visto como um profeta urbano era tratado com o carinho e a gentileza que tanto propagou. Viajou por todo o Brasil, cativou pensadores e ganhou muitas estampas nos jornais. Então tornou suas mensagens concretas ao escrevê-las no próprio concreto, em um lugar por onde as pessoas, antes, apenas passavam. A este lugar cheio de fumaça, cinzas e muita sujeira, trouxe a beleza, a cor, a simbologia e a sonoridade de suas palavras. Fez-se presente na vida da muitas pessoas que até então apenas o tinham visto de relance, ou ouvido falar do louquinho do circo em cinzas.
Fez-se ouvir pela palavra escrita, fez-se notar pela figura não vista.
Me encantei pela sua história, e então já fazia sentido tentar usar ‘suas’ palavras. E passei a usá-las, com prazer, com gentileza. Quando passei a usá-las me espantei ao observar as reações das pessoas. Ao contrário do POR FAVOR, que é recebido naturalmente, até indiferentemente sem maiores reações, ao abordar alguém com POR GENTILEZA a pessoa para, levanta o olhar, presta atenção a quem esta falando e ao que se esta falando e até, às vezes, esboça um leve sorriso de satisfação de poder realizar uma gentileza a alguém que a esta pedindo.
É impressionante a boa vontade, na maioria das vezes, com que se é recebido, atendido e tratado ao pronunciar tais palavras de tão grande expressão.
Descobri o poder da palavra, a importância de se notar o significado delas antes de usá-las automaticamente, e sua relevância na propagação de uma intenção, um conceito ou uma mensagem que se queira propagar.
Hoje peço POR GENTILEZA, me digo AGRADECIDA e vejo portas e sorrisos abrirem-se ao soar de palavras tão simples, tão belas e tão significativas.
Há cada dia descubro mais e mais coisas que me assombram, que me assustam e me fazem duvidar do mundo e de mim mesma. Uns passam por cima de outros, tentam sugar tudo o que podem e descartam sem mais pessoas que ontem beijavam e abraçavam e chamavam "amigo". Nos olhos frieza, na boca sorrisos de plástico, no coração apenas solidão. Então olho pra dentro, e vejo que a dúvida que me acometia era medo, medo de encontrar novamente este tipo de gente, medo de me tornar uma delas. Mas não, não sou uma delas, tenho luz em mim, tenho amor pelo que faço, tenho verdade no que digo, me importo com quem me acompanha. Só sei viver me entregando, vivendo intensamente cada momento, cada instante, cada sentimento e interação.
Como diria nossa queridíssima Clarice Lispector...
"Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre."
Sou múltipla e uma só, e posso estar toda em diversas coisas, mas jamais serei parte, jamais serei menos. Amo intensamente pessoas, até que me mostrem claramente não serem merecedoras deste amor, nos olhos, em palavras, atitudes e por vezes na falta delas. E pessoas que tem por habito destruir pessoas, sonhos, amizades, não merecem ser amadas por mim.
Caminhos, quais? Sempre ha dúvida de qual caminho seguir. Escolhemos, sempre! Tomar atalhos, retornar,escolher o caminho oposto. Traçando o mapa de nossas vidas, caminhos escolhidos, desistidos, retomados, desviados. Caminhos que se nos mostram belas paisagens, com seus frescos pôres-do-sol e lindas noites estreladas, que nos exigem esforços desumanos e nos dão sombra e água fresca, que nos mantêm sempre alertas as sombras de suas beiras. Caminhar pra que? Se não há a caminhada, não há aonde chegar. Se não há caminho, não há destino, nem histórias a contar. Portanto caminho, descanso, mudo de direção, escolho outro caminho, chego, e de novo me ponho a caminhar, em busca de novos desafios, de novas conquistas, de novas descobertas, de novas pessoas a conhecer nessa bela, dificil, e prazerosa caminhada. Os meus pés doem, a cabeça também, mas o coração se mantém pleno, pois continuo caminhando.