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Produtora cultural, aprendiz de escritora e fotógrafa, devoradora de livros e chocolates, "fazedora" e mantenedora de amigos.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Loucura embriagada

Certa noite recebeu flores, não vieram com declarações de amor ou sequer palavras ternas,  vieram de uma loucura embriagada,  de um amor que se negava a ser, mas que teimava em permanecer acordado,  como criança que se nega a dormir. 
Não vieram em bouquet,  as flores,  sequer arrumadas como quem se propõe a presentear pensa em fazer. Vieram "ajuntadas" em saco improvisado,  colhidas a esmo de jardins vizinhos,  em uma tentativa bêbada de desculpas. 
Olha-las ali, esparramadas na mesa da sala, tão lindas e coloridas, causou-lhe ao mesmo tempo ternura,  afeto e tristeza.  Por saber que em sua fragilidade, na falta de solo fértil que as permitisse perseverar,  aquela oferta significava também o início do fim. Daquele "relacionamento", que já exibia claros sinais de últimos suspiros, e daquelas belas flores,  esparramadas,  enfeitando a mesa no canto da sala por alguns dias, até que murchassem por fim. 
Ambos, permaneceram de alguma forma vivos, na lembrança,  as vezes gostosa, de dias de eterna preguiça,  entre conchinhas, risadas e sessões de filmes,  muitas vezes dolorosa, como em noites caóticas e delirantes,  nas tentativas de salvação,  do outro e de si mesma.
Só salvou a si própria,  de virar permanentemente os cacos em que havia se tornado naqueles dois anos. O outro, é sabido que só é possível que se salve ele dele mesmo.
Permanecem as memórias e as flores em imagens congeladas,  no hd interno, nas memórias e histórias que sempre virão sucitar. Histórias de um tempo estranho, um pouco feliz,  muito triste,  de quando ainda era uma outra, uma que nunca se soube, que nunca sequer se reconheceu nos espelhos observados.  Nos olhos, no brilho escondido bem lá no fundo, nesses ela sempre encontrou, a si mesma, a resposta,  o caminho, o ponto final,  aquele que gera também todos os recomeços. 

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