A BRUXA DA CASA AO LADO
Capítulo I – A Rua
- Ah, hã! - Foi só o que consegui dizer
Esta noite sonhei com amigos…
ríamos das ditas verdades
aplaudíamos mentiras sinceras
realizávamos encontros, abraçando velhos planos
Esta noite sonhei com amigos,
dizendo tudo o que pensávamos,
Lembrando de anos passados, seus reflexos
Idealizando tempos futuros e nos desejando como agora:
satisfeitos com quem somos,
nos reconhecendo em nossos espelhos
Esta noite sonhei com meus sonhos...
Onde ainda posso aquilo que penso
Onde sempre penso aquilo que realizo
Onde realizo apenas o que desejo
Sonhei meus sonhos reais, possíveis
Confusos e humanos, como um grande amor turbulento
Doces e sutis, como um pequeno bocejar em uma manhã quente
Luminosos e Infinitos, como o brilho de estrelas inexistentes
Esta noite sonhei com amigos...
VIDA
Perfume de rosas desbotadas,
como a luz embaçada de uma manhã nublada de verão
imagem desfocada de pássaros tontos,
como música desafinada soando em meio ao caos urbano,
tudo destoa,
nada esta onde deveria
pensamentos sem sentido
sentimentos sem razão.
As vias obstruídas
A visão embaçada
A mente perdida
O coração exaltado.
Perdida em sua própria casa
A menina se sente envolta em névoa
Dorme acordada em seu sonho impossível
Acorda, rindo de uma vida não planejada.
Perde sentidos,
Encontra caminhos,
Recorda o que nunca encontrou
Esquece o que nunca lembrou
Aprendeu a ser aquela que apenas tocou
Corações e almas que passaram por seus sonhos
Descobriu que foi a que deixou marcas
Em objetos observados por suas noites em branco
Perdeu o caminho da realidade descrita,
Achou o destino dos pensamentos perdidos,
Atravessou, como uma flecha, o muro de ilusões despedaçadas
E se tornou aquela que nunca acordará do que chamam, VIDA.
Um acordar ao som de um regato,
ao som empolgante dos pássaros,
acordar sentindo o calor suave de um filete de luz
a aquecer a pele sonolenta,
acordar de sonhos, sem os deixar de sonhar,
sem deixar a sensação enevoada,
inebriante e aconchegante dos sonhos se esvair,
sem deixar que a luz,
o chão frio e o amargor do café
contaminem com sua dureza
a leveza da sensação de fechar os olhos
e voltar a sonhar.
Já escrevi poemas,
E devorei muitos livros,
Já realizei sonhos,
E cultivei amigos
Visitei tantos lugares,
E descobri tantas pessoas,
Sonhei com amores possíveis,
E aprendi a viver sem eles.
Percorri infinitos caminhos,
E ainda tenho muito para ver
Estou sempre voando para longe
E voltando, para me abastecer
Para onde me sinto em casa
Para onde meus sonhos nascem
Para onde o solo é mais fértil,
o riso mais solto
E o sol mais gostoso
Onde encontro a água mais doce,
E a relva mais fresca
Onde o abraço é mais apertado,
o choro será sempre salgado
o ar permanecerá leve e gelado
E o colo, macio e pronto!
Anda,
Como se teus pés te guiassem ao futuro,
Como se teu caminhar significasse solução para seus problemas.
Caminha,
Ao encontro do que acredita real,
Em direção a seus verdadeiros medos, que permanecem atormentando noites em claro.
Anda sempre a procura das suas virtudes,
Em busca de um passado mal dito,
À procura de palavras perdidas e sonhos esquecidos.
Permaneça caminhando, mesmo quando teus pés já não mais te obedecerem
Quando tuas mãos enxugarem seu rosto sem saber bem de onde vem as gotas,
Se dos olhos, da pele ou da alma
Caminha pra frente, pra trás para os lados,
reconhecendo traços de outras passagens,
retrocedendo para contemplar novas paisagens
que de tão conhecidas tornaram-se estranhas
que de tão contempladas tornaram-se outras
Olha,
Como se fosse a primeira vez,
E reconheça traços familiares,
Perceba todas as cores, ouça todos os ruídos, sinta todos os odores.
Permaneça onde esta e veja que tudo mudou,
Mude seu modo de ver e perceba que já não faz sentido,
Caminhe em direção a um objetivo e desista dele
Continue o que começou e nunca acabe
Acredite no que dizem e faça diferente
Dê tudo de si e peça de volta
Olhe para todos os lados e veja o que há dentro
Vá ate onde puder e dê mais um passo!
Aprofundemos,
Relações não consumidas
Realidades pouco vividas
Intimidades não consumadas.
Deixemos que os pensamentos ocupem seus lugares
palpáveis no presente tão aguardado
Pensemos que todo impedimento inexiste quando nos
descobrimos parte concreta na manifestação do que
desejamos.
Acreditemos no real poder das palavras e pensamentos
quando os virmos criando realidades invertidas e
transformadas.
Aprofundemos tudo!
A ponto de tocarmos o fundo das consciências, que de
tão perdidas e esquecidas tornaram-se inconsciências
aladas.
Libertemos,
Consciências, inconsciências, desejos infames,
realidades tortas, pecados inconfessáveis.
Realizemos impossibilidades,
Digamos inverdades,
Percamos dignidades,
Sejamos tudo o que nossa frágil humanidade nos permite ser,
e que de tão frágil
é facilmente quebrável,
perfeitamente possível, profundamente aprazível e delirantemente insuportável.
Aprofundemos!
Abramos os olhos!
Vivamos intensamente,
Até que tudo se acabe,
Até que os olhos se fechem,
As bocas se toquem,
Os cílios se percam,
Os sonhos se embolem,
Até que tudo perca o sentido e tenha perfeita
explicação
Até a luz se perder no infinito
E a verdade ser pura ilusão!!!
Gosto de minhas palavras,
De vê-las nos olhos dos outros,
Do brilho que caminha com elas,
E dos sonhos que podem suscitar.
Gosto de minhas idéias,
De percebê-las possíveis,
A tomar vida própria,
Criando novas realidades.
As idéias virando palavras,
Os sonhos se transformando em paginas,
Eu, me tornando outra, extra, melhor!
Gosto de meus pensamentos,
Tomam caminhos estranhos,
Encontram lugares incríveis,
E descobrem como voltar,
Acredito nos meus sonhos,
Que podem parecer reais,
Se materializar em lugares descritos,
E permanecer escondidos demais.
De novo,
mais uma noite sem dormir,
cheia de lembranças do passado
cheia de grandes planos para o futuro
povoada de medos, inseguranças, ansiedades
regada a sangue quente
plena de suor frio
De novo,
nova fase de noites brancas
cabeça cheia
cama vazia
La fora, o calor da noite super-aquece
os infelizes que dormem,
aqui dentro, o vento gelado me diz
como é triste acordar sozinha.
Por isso não durmo,
para não ter que acordar,
para não lidar com a vida,
com seus falsos sinais
de esperanças perdidas.
Por isso não fecho os olhos,
para não enxergar além
da concretude que me cerca,
para que eu, que moro aqui dentro,
continue achando perguntas
e procurando respostas no “lá fora”.
E permaneço acordada,
acendo as luzes,
leio palavras escritas por outros,
em suas noites brancas,
escrevo segredos ocultos do mundo,
em meus dias escuros,
e sonho em dormir!!!